
“Até 2050 haverá, em peso, mais plástico do que peixe no mar”. A frase pronunciada pelo jornalista João Malavolta, durante o evento ‘Praia limpa, oceano protegido’, realizado entre sexta-feira e sábado (28 e 29/03), chamou bastante atenção. O dado é de 2015, do Fórum Econômico Mundial de Davos, mas, quanto mais próximo do prazo anunciado, as condições oceânicas parecem alarmar mais do que no passado, quando o levantamento foi feito.
Tanto é que ações socioeducativas surgem em diferentes lugares do globo, evidenciando a urgência do problema. No litoral de São Paulo, a Associação de Engenheiros e Arquitetos de Itanhaém (AEAI) se juntou, pelo segundo ano consecutivo, ao Crea-SP e à Mútua-SP, com apoio de outros parceiros, para viabilizar um mutirão de limpeza da praia. A ação foi dividida entre o compartilhamento de informações sobre o cenário enfrentado, e no exercício prático de cidadania e sustentabilidade.
“Estamos na segunda edição do ‘Praia limpa, oceano protegido’ porque vemos essa iniciativa com muita importância para a preservação do equipamento público. A intenção do projeto é mostrar para as pessoas que esse espaço precisa ser cuidado, e quais são as formas corretas de fazer isso e também de utilizá-lo”, destacou a presidente da AEAI e conselheira do Crea-SP pela mesma instituição, Eng. Elisangela Freitas.
A entidade de classe conectou sociedade civil organizada, poder público municipal, agentes do legislativo itanhaense, profissionais da área tecnológica, munícipes e outras agremiações, como a Associação Comercial, Agrícola e Industrial de Itanhaém (ACAI) e o Rotary Club, todos focados em reduzir a quantidade de resíduos encontrados entre a orla, a faixa de areia e o mar. “Estamos falando de um desafio mundial. Quando conseguimos envolver várias pessoas, podemos influenciá-las para que se envolvam verdadeiramente”, mencionou Elisangela.
Um exemplo claro desse efeito catalisador foi a participação de Poliana Santos. A voluntária esteve na primeira edição do ‘Praia limpa, oceano protegido’, em 2024, e voltou no último fim de semana. Diferente do ano anterior, desta vez ela esteve acompanhada dos três filhos, que têm entre 3 e 12 anos. “Me sinto muito feliz em passar essa responsabilidade para eles, porque eles são apaixonados por praia. O nosso combinado em casa e aqui é de que o lixo não pode ficar em qualquer lugar”, afirmou. “Todo mundo deveria ter essa consciência”, complementou Wellington Rolim de Goes, também voluntário e morador de Itanhaém.

Integração em busca de qualidade de vida
O programa itanhaense integrou a mobilização ecológica aos esportes, com a promoção de uma competição de beach tennis, para mostrar o potencial de envolver diferentes frentes para o engajamento da comunidade. “Os recursos naturais são finitos. É dever de todos trabalhar para preservá-los para as futuras gerações e, para atuar na preservação, dependemos também do comportamento humano”, disse o gestor público e advogado Cesár Augusto de Souza Ferreira, secretário da pasta de Defesa do Meio Ambiente e Bem-Estar Animal de Itanhaém.

Para ele, ter o maior conselho de fiscalização do exercício profissional da América Latina, um órgão de classe representativo das profissões que atuam na viabilização de projetos de interesse do município onde 85% do território é de cobertura vegetal, foi de extrema relevância. “Estamos vivendo momentos de mudanças climáticas e eventos extremos. Por isso a importância de envolver profissionais técnicos em uma ação que não é somente de esporte, lazer ou limpeza de praia, mas sim de impacto cultural”, argumentou.

O secretário falou ainda do papel do poder público no cenário. “Apesar de exercemos um estado democrático de direito, com representantes legais, a administração não consegue fazer nada sozinha. Precisamos dos cidadãos, dos profissionais, da classe empresarial, principalmente quando tratamos de soluções técnicas”, afirmou César.
Do outro lado, Ana Luiza Aguiar, que nasceu em Itanhaém, mas hoje vive em São Paulo, sugeriu uma proposta a ser considerada em qualquer localidade. “É nesta atitude de sair procurando que vemos o quanto lixo tem escondido. E, se tivermos esse cuidado, na praia, na praça ou em qualquer lugar onde vamos, veremos que sempre tem alguma coisa para ser retirada”.
O que não é lixo, pode e deve ser reciclado
Depois de recolhido, para onde vai o que foi coletado? A dúvida surgiu em meio aos voluntários e foi a EcoSurf, organização que liderou a mobilização, que explicou melhor o processo. “A ação de limpeza de praia simboliza um esforço coletivo pelo bem comum. Depois de feita a extração, temos um trabalho chamado Raio-X do Lixo, em que fazemos a segregação pelo tipo objeto e suas condições. Em seguida, partimos para a Gravimetria, como chamamos a pesquisa para entender os materiais de maior abundância encontrados no ambiente. Por fim, direcionamos para a cooperativa”, detalhou João, CEO e fundador da EcoSurf, personagem mencionado no início desta matéria.

A exemplo do ‘Praia limpa, oceano protegido’, depois de uma coleta, quem entra em atividade é a Coopersol, cooperativa responsável por tratar e encaminhar os resíduos sólidos recicláveis de Itanhaém. “Separamos, fazemos a triagem, colocamos em fardos e vendemos para o atravessador para ele vender às áreas de destinação final”, explicou Roberta Rossi, presidente do grupo. No entanto, atualmente, de uma capacidade de até 30 toneladas de recicláveis, a cooperativa recebe quase a metade, com um volume mensal de apenas 16t. “Precisamos de mais engajamento, de mais eventos assim para que mais pessoas participem”, completou.

A Coopersol trabalha de segunda a sexta-feira percorrendo os bairros em uma escala semanal, para que nenhum fique de fora, além de manter parceria com o comércio local. “O lixo reciclável existe, mas precisa chegar até o local adequado, porque ainda está indo para a coleta comum”, acrescentou Márcia Cristina Viana, integrante da diretoria da cooperativa. Um meio de contribuir é com o cadastro, que pode ser realizado por telefone, nos contatos: (13) 3427-6470 e (13) 99756-8991.
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